sábado, 12 de janeiro de 2008

O MUSEU AO AR LIVRE (Parte III)








...E após ter fumado dois ou três pensativos cigarros (Parafraseando um dos clássicos da literatura da nossa praça), foi tempo de deixar a Piazza della Signoria e avançar para a próxima sala do museu.


O denominador comum de todas as grandes cidades italianas, salvo raras e honrosas excepções como Roma, é a existência de uma grande Catedral a qual se designa por Duomo. Milão tem um bem grande e tinha ouvido dizer que o de Florença não ficava atrás (Antes pelo contrário). Estava na hora de encontra-lo.


A minha navegação através de Florença fazia-se apoiado apenas na fugaz consulta feita a algumas plantas da cidade no Google, uma vez que até há alguns dias antes era suposto que aquela hora eu estivesse num autocarro a caminho de Zagreb e não ali. Por isso, e pela primeira vez em alguns anos de fiel relacionamento, o Tuga Global encontrava-se num país estrangeiro sem a ajuda de um guia Lonely Planet referente ao local em questão. Ou sem qualquer tipo da ajuda para ser honesto.


O empirismo que se vai adquirindo através da paixão de explorar cidades, vilas e burgos em geral ditava que me fizesse à rua mais ampla que conseguisse encontrar, porque concerteza iria desaguar em algum lugar de relevo. E por isso tomei a Via dei Calzaiuoli, espécie de Rua de Santa Catarina com o dobro (Ou mais) da largura, iluminada naquela altura pelas decorações natalícias, apinhada de gente, na sua maioria turistas. A meio caminho, entre palacetes que hoje em dia albergam lojas no seu piso térreo, aparece uma abertura que conduz à Piazza della Republica. Ainda que parecesse apelativa esta praça, algo me dizia para continuar a seguir a Via dei Calzaiuoli... afinal já se via um espaço mais amplo no seu final a cerca de duzentos ou trezentos metros.


Ao chegar perto da desembocadura da rua o olhar é-me puxado para a esquera e para um mini-palacete chamado Loggia del Bigallo (Foto 1). Um edíficio interessantíssimo apesar de pequeno, datando do século XIV onde se vê o típico traço dos mestres toscanos da idade média. Um autêntico David , se pensarmos que nos distrai do "ataque" eminente do Golias que nos contempla no lado oposto da rua. Il Duomo (Fotos 2 e 3)!!!


Muitas vezes me senti como um insecto perante um edifício ou uma obra natural de grandes proporções... o Duomo teve o condão de fazer sentir como um insecto que acabou de ser esmagado por uma descomunal bota!


Iniciada em 1446 sob a batuta do Mestre Brunelleschi, que hoje repousa na cave da nave central, este gigante com uma cúpula que no seu pináculo paira a 116 metros do solo florentino foi terminada em 1468 por Verrochio e é toda revestida no seu exterior por três tipos de mármore; branco, rosa e verde. Como se não bastasse, mesmo ao lado encontra-se o campanário de Giotto, nos mesmos materiais que o edifício principal e elevando-se a 84 metros de altura, e em frente ainda nos mesmos materiais e com incrustações em ouro maciço com altos relevos na porta principal encontra-se o baptistério de São João.


Ficamos por aqui? Na verdade não. Quando finalmente consegui voltar a juntar ambas as minhas maxilas e recuperei do êxtase letárgico em que me encontrava, fui até ao interior da nave central. Para minha surpresa a entrada era grátis, mas quem quiser subir à cúpula terá de desembolsar qualquer coisa como 6 Euros e para subir ao campanário (400 degraus!!!) deixa lá ficar 8. Facto que provavelmente ultrajaria os Médici que encomendaram a sumptuosa obra como forma derradeira de ostentação da sua riqueza. Afinal de contas, além de serem os governantes de Florença eram os banqueiros dos Papas daquela altura.


No interior, se não fosse pelos pilares laterais, a Fiorentina poderia provavelmente jogar os seus encontros caseiros ao abrigo do mau tempo, pois creio que exista comprimento e largura suficientes para um campo de futebol com as dimensões mínimas.


E no fim da nave central olha-se para cima e é-se de novo esmagado... Desta vez trata-se dos frescos que decoram a cúpula da autoria de Vassari e retratam o Juízo Universal (Foto 4). Terá sido daqui que Michelangelo bebeu a inspiração para o seu Juízo Final na Capela Sistina.


Estava na hora de voltar para casa do Paolo tentar processar toda a informação recebida nas últimas duas horas... Que é o mesmo que tentar raciocinar depois de termos sido atropelados por um camião... e este era mesmo grande!

5 comentários:

AnaD disse...

Como se fosse possivel ... mas fiquei ainda com mais vontade de conhecer Florença ... que saudades de Itália, tenho que pensar em tratar disso :)

CARLOS RODRIGUES disse...

Vens comigo e com o Laser que já está apalavrado de irmos a Maranello... Por falar nisso, trouxe de Bolonha um flyer da Galleria Ferrari. Da próxima vez que o pessoal do AS se encontrar dou-to pessoalmente ou envio-to através de alguém.

AnaD disse...

:) visitas a maranello ... hummm .... o lado vermelho da força tem muito poder!!!!!

Obrigada, vê lá se é pessoalmente para ver se a gente se conhece!

AnaD disse...

:) visitas a maranello ... hummm .... o lado vermelho da força tem muito poder!!!!!

Obrigada, vê lá se é pessoalmente para ver se a gente se conhece!

CARLOS RODRIGUES disse...

O facto de eu não ser muçulmano não implica que não visite uma mesquita ;)


Já era para lá ter ido desta vez mas acabei por preferir ir a Roma... mais tarde conto aqui como se passou.


Sabes que a minha máquina fotográfica pode ser um bom substituto para as fotocópias do Stepney :P